Racismo faz surgir identidade explosiva, forjada em dor e raiva
Para o doutor em Antropologia Jaime Amparo Alves, irônica e
paradoxalmente, o sofrimento social negro traz consigo as sementes
revolucionárias porque não resta outra opção a não ser resistir enquanto
grupo organizado.
Por Jorge Américo, para a Radioagência NP
No início de maio, pelo menos 40
organizações populares se reuniram na cidade de São Paulo para lançar a
Frente Pró-Cotas Raciais. O encontro ocorreu duas semanas após o Supremo
Tribunal Federal (STF) declarar a constitucionalidade da reserva de
vagas para negros em instituições públicas de ensino superior.A mobilização se deu quando os reitores das três universidades estaduais paulistas (USP, UNESP e Unicamp) anunciaram que a decisão do STF não provocará nenhuma alteração em seus processos seletivos. O primeiro ato político da Frente foi a realização de uma Aula Pública, na semana da Abolição, no interior da Faculdade de Direito do Largo São Francisco.
Anteriormente, muitas dessas organizações formaram o Comitê contra o Genocídio da Juventude Negra, para denunciar a violência policial e a ausência de políticas públicas voltadas para essa parcela da população.
Em entrevista à Radioagência NP, Jaime Amparo Alves, doutor em Antropologia e Pesquisador do Departamento de Estudos Africanos e Afro-Americanos da Universidade do Texas (EUA), interpreta as recentes mobilizações como um indicativo de que é possível uma reaproximação das entidades do movimento negro, fragmentado com a aprovação de um Estatuto da Igualdade Racial “esvaziado”.
“A esquerda brasileira é esquizofrênica ao esperar que se resolva o problema de classe para que um dia a questão racial seja, enfim, posta na mesa de debates”, analisa o antropólogo. “Eu descobri isso quando vi minha mãe envelhecendo na cozinha dos companheiros revolucionários”. Entre outras análises, ele vê São Paulo como “uma necrópolis que ambienta nas relações sociais e nas políticas governamentais as práticas genocidas antinegro”.
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