sexta-feira, 3 de abril de 2015

Poesia: EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA

CANDOMBE

Põe o ombro na lua,
Mas levanta forte
que Zambi arrepia o sol.

Os velhos desfiam os dedos
e o tempo se assusta: “Auê,
quem vive tanto é de mistério”.

“Não, que o quê?— respondem.
Põe o ombro aqui, candonga
mas dobra forte
que Zambi engole o sol.

Uê, morde por dentro
cobra dormindo faz a cova.

Uê, quem sabe desses meninos
é Zambi que engole o sol
é Zambi que mata o sol.


MISSA CONGA

Para que deuses se reza
quando o corpo aprendeu
      toda linguagem do mundo?

Onde se deitam os olhos
quando o altar dos antigos
         ainda se esconde?

Para que deuses se reza
quando as palavras se velam
         para invocar os nomes?

Por que não entregar a vida
ao deus com olhos de plumas
        que vive no fundo dos tempos?

EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA

Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, em 1963. Licenciado em Letras e especializado em literatura portuguesa. Professor de literatura na Universidade Federal de Juiz de Fora, é mestre em literatura e em ciência da religião e doutor em comunicação e cultura. Estreou em 1985 e  publicou quase duas dezenas de livros. Sua obra poética foi reunida em quatro volumes em 2003, incluindo: Zé Osório Blues (2002); Lugares Ares (2003); Casa da Palavra (2003); e As Coisas Arcas (2003).  Traduzido a vários idiomas. 
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