sábado, 30 de maio de 2015



JORNAIS AFRICANOS DE 1800 A 1922 DISPONÍVEIS


NO SITE DO SISTEMA DE BIBLIOTECAS DA UNICAMP







A Unicamp acaba de assinar a Base de Dados “World Newspaper Archive: Jornais Africanos Históricos 1800-1922” - uma coleção de periódicos com 66 jornais publicados em vários países ao sul do Saara. O conjunto cobre um período de grandes mudanças no continente africano, abrangendo fatos importantes como o comércio de escravos no Atlântico, a vida sob domínio colonial, as Guerras Zulu e a rejeição do Imperialismo Ocidental. Alguns títulos podem ser mais difíceis de serem consultados, por questões linguísticas, mas a Base contém diversos jornais em língua inglesa e também títulos completos em português, produzidos em Angola, São Tomé e Príncipe e Moçambique. Os instrumentos de navegação são amigáveis e é possível pesquisas em profundidade, uma vez que a digitalização dos jornais oferece busca por caracteres reconhecidos por processadores de texto.
Com vasto recorte geográfico, político e temporal, a Base oferece grande potencial para a pesquisa em História e Antropologia da África em diversos níveis, da Iniciação Científica ao Pós-Doutorado. 
Para acessar entre na página do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (www.sbu.unicamp.br) e busque pelo título da base de dados. Somente os acessos realizados dentro do range de IPs da universidade (computadores instalados dentro dos campi da Unicamp) é que têm direito a baixar o conteúdo disponível nos periódicos eletrônicos, bases de dados, e-books e outros materiais que dependem de uma assinatura para serem acessados.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Enedina Alves Marques, A Primeira Engenheira Negra Do Brasil (1913-1981)

Enedina Alves Marques foi a primeira mulher e primeira negra a graduar-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná, em 1945. A engenheira participou da construção da Usina de Parigot de Souza e trabalhou na Secretaria Estadual de Educação, entre outros locais.



Negros Geniais, negros engenheiros, Enedina Alves Marques, Rogério de Moura, ação afirmativa

Em agosto de 1981, o jornal Diário Popular tinha a matéria de capa que pedira aos infernos. Uma senhora fora encontrada morta em seu apartamento, na Rua Ermelino de Leão, Centro de Curitiba. O porteiro sentira falta da moradora, chamou a polícia e a imprensa veio atrás. A foto da “falecida” saiu sem pudores, na cama, em camisolas, um tratamento dado aos “presuntos”, no jargão da imprensa policial. Houve quem não gostasse, com punhos e coração.

A vítima se chamava Enedina Alves Marques, tinha 68 anos e fora a primeira engenheira negra do Brasil. Morreu de infarte. Indignação. Seus companheiros de ofício fizeram uma grita nas páginas da revista Panorama. O Diário se retratou. Afinal, as vitórias de uma mulher negra e pobre que figurou entre os seletos bacharéis de Engenharia da UFPR, na década de 1940, deveria constar nos anais da República, e não na manchete sanguinolenta de um tabloide.

Deu resultado. Enedina virou placa de rua no Cajuru. Ganhou inscrição de bronze no Memorial à Mulher Pioneira, criado pelas soroptimistas – organização internacional voltada aos direitos humanos, da qual participou. Mereceu biografia assinada por Ildefonso Puppi. Seu túmulo, no Municipal, é mantido com respeito pelo Instituto de Engenheiros do Paraná. Tempos depois, batizou o Instituto Mulheres Negras, de Maringá.

Aos poucos, descansou em paz. Paz até demais. O centenário de nascimento de Enedina, em janeiro deste ano, passou em branco. Poderia ter sido celebrado pari passu com o de sua contemporânea, a poeta Helena Kolody, com quem, suspeita-se, teria estudado. Sim, antes de engenheira foi normalista e civilizou os sertões de Rio Negro e Cerro Azul, saindo das lides de doméstica e de “mãe preta” para a de titular de uma sala de aula.

Eu mesmo, confesso, nunca tinha ouvido falar dela até semana passada, quando meu vizinho, Darcy Rosa, estufou o peito para contar que tinha trabalhado com Enedina na Secretaria de Viação e Obras. Publicamos a declaração. Foi o que bastou: súbito vieram mensagens revelando a catacumba onde se reúnem os cultores dessa mulher.

O cineasta Paulo Munhoz prepara um documentário sobre ela, em parceria com o historiador Sandro Luis Fernandes. A casa de Sandro, no São Braz, virou um pequeno memorial de todo e qualquer documento que traga informações sobre a engenheira. São raros, dispersos e imprecisos. Bem o sabe o estudante baiano Jorge Santana. Há dois anos, ele pinça toda e qualquer pista sobre Enedina para uma monografia no curso de História da UFPR. A pesquisa promete. Há fortes indícios de que Enedina sofreu perseguição racial nos bastidores da universidade.

Formou-se aos 31 anos, sem refresco, depois de uma saga nas madurezas. Vingou-se ao se aposentar, na década de 1960, como procuradora, respeitada por sua contribuição à autonomia elétrica do Paraná. Conheceu o mundo. Morava num apartamento de 500 metros quadrados. Impôs-se entre os ricos por sua cultura, 12 perucas e casacos de pele. Desconhece-se que tenha feito odes feministas ou em prol da igualdade. Ou que fizesse o tipo boazinha para ser aceita. Pelo contrário. Talvez Enedina tenha sido mais admirada que amada. É o que a torna ainda mais intrigante.

As pesquisas de Sandro e de Jorge – ambos negros – já tiraram Enedina do campo dos panegíricos, que se limitam a pintá-la como alguém que venceu pelo próprio esforço. É um discurso bem conveniente, como se sabe. Tudo indica que não se trata de uma biografia isolada, ainda que pareça.

A mulher baixinha, magérrima e durona sabia se impor entre os homens – com os quais gostava de beber cerveja. Enfrentava a lida nas barragens como um deles, armada se preciso fosse. É uma heroína perfeita para um longa-metragem. Nasceu de uma gente humilde do Portão. Era única menina numa casa de dez filhos. A mãe, Virgília, a dona Duca, ganhava uns trocos como lavadeira. O pai, Paulo, está na categoria “saiu para comprar cigarros”.

Mas não é tudo. Enedina teria feito parte de uma rede de resistência da comunidade negra paranaense, pré-Black Power, da qual pouco se ouve falar. As vitórias que teve desmentem a propalada passividade desse grupo diante das migalhas que lhe foram reservadas. O destino dela teria mudado ao cruzar com a família de Domingos Nascimento, negro de posses da Água Verde, e com os Heibel e os Caron, brancos progressistas que acabaram por se tornar os seus.

Nesses redutos não teria encontrado apenas um horário para estudar ao lado do fogão de lenha. Ali, suspeita-se, passou de Dindinha, seu apelido, a Enedina, a primeira engenheira, mas também uma das primeiras negras de fato alforriadas de que se tem notícia. Eis o ponto.


JOSÉ CARLOS FERNANDES
jcfernandes@gazetadopovo.com.br
Gazeta do Povo - Curitiba-PR

sábado, 11 de abril de 2015

Cultura Popular em Belo Horizonte – Festival de Arte Negra

TRABALHO EM GRUPO DOS ALUNOS DO 3º PERÍODO - LETRAS -1º SEMESTRE 2015

Alunos: Heidy Cristina G. Lopes, Miguel Fernandes Pereira.









Referências Bibliográficas

GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo, Cia das Letras, 1987.
BURKE, Peter. Cultura Popular na Idade Moderna: Europa, 1500-1800 . São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

ASSISTA: https://vimeo.com/90412520

Convite: Canjerê Cutubas



terça-feira, 7 de abril de 2015

Literatura: Conceição Evaristo


Conceição Evaristo, nascida em Belo Horizonte, é hoje uma das mais importantes representantes da literatura afro-brasileira no país. Seu livro mais conhecido, Ponciá Vicêncio, narra as desventuras de uma mulher negra na cidade grande. Como as figuras de barro que constrói, Ponciá é fragil e delicada, mas sua sensibilidade artística não a livra de todas as formas de violência que historicamente atingem às mulheres negras e pobres. Porém, Ponciá é também forte como a arte e seu desejo de liberdade se revela em suas memórias, na luta para reencontrar seu passado negado, sua família, sua identidade.


Vozes-mulheres
Conceição Evaristo


A voz de minha bisavó ecoou
Pierre Verger
criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos

de uma infância perdida.

A voz de minha avó
ecoou obediência

aos brancos donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela.
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
e fome.
A voz de minha filha
recolhe todas as nossas vozes
recolhe em si
as vozes mudas caladas
engasgadas nas gargantas
.


Pesquisa: Escravidão no Brasil


Mercado de escravos- Debret
  Uma pesquisa na coleção da Biblioteca Nacional.O Projeto tráfico de escravos e escravidão, iniciado pela UNESCO em  1999, no contexto do Programa Memória do Mundo daquela Organização, vem tornando possível a identificação da informação e da documentação existente no mundo em relação à escravidão e ao tráfico de escravos.
A Fundação Biblioteca Nacional,  por considerar o tema de grande relevância para os pesquisadores brasileiros , solicitou ao Programa Memória do Mundo que incorporasse o Brasil nessa pesquisa e recebeu o patrocínio da UNESCO para efetuar esse trabalho. Nessa primeira etapa, a pesquisa cobriu, exclusivamente, o acervo da Biblioteca Nacional e foi efetuada a partir de setembro de 2003. 

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Arte africana e arte moderna (Trabalhos de alunos/as)

Alunas: Izabela de Magalhães, Mariana Ferreira Valentin e Paula Serelle Macedo
História da Arte - LETRAS/ CEFET MG- 3º Período -
Arte moderna e arte africana: aproximações e distanciamentos
A influência que a arte africana exerceu sobre a arte moderna na Europa é um rico ponto de discussão e estudo. Desde sua tomada como arte exótica na época do Romantismo, até sua forte utilização como tendência no cenário artístico da década de 60, a arte negra cria reflexos nos mais diversos trabalhos artísticos.
Máscaras- África Subsaariana
O que se assume como arte africana nessa discussão são as obras vindas da região da África Subsaariana. Estátuas, máscaras e outros artefatos que chegaram na Europa no final do século XIX e início do XX instigaram vários artistas, com primeiros reflexos observados nos fauvistas, especialmente no trabalho de Henri Matisse.
A arte de outros artistas modernistas, como Picasso, Derain e Vlaminck também tiveram grandes influências africanas.  No Brasil, destacaram-se Lasar Segall, Tarsila do Amaral e Portinari. A arte africana impressionava por se diferenciar da visão tradicional do mundo à qual os artistas estavam acostumados, mesmo quando retirada do seu contexto ritualístico original.
A expansão de museus etnográficos na Europa fez com que os artistas se interessassem cada vez mais pelos trabalhos de arte negra. Juntando-se ao já existente desejo de renovação no cenário artístico, a arte africana proporcionou novas formas e expressões diferentes dos já conhecidos e tradicionais modos gregos. A valorização do desenho acentuado, dos efeitos de forma, das qualidades de linha e superfície, entre outros, mostrou aos europeus que a arte africana não era interessante por ser exótica ou estranha, mas sim por seu processo de elaboração.
Matisse- A dança- 1910
Fortes reflexos vão ser então observados no começo do século XX, com as obras de Picasso e o movimento denominado Cubismo. Em seu “período negro”, o artista pintou quadros no quais utiliza a cor para modelar os volumes, através da repetição de traços lineares, como ocorre na arte africana. Essa nova estética buscava a desconstrução da realidade e a eliminação da harmonia clássica. Os artistas desse movimento basearam seus traços nas deformações e transfigurações das representações faciais das máscaras africanas. Essas máscaras não apresentavam rostos humanos de acordo com a harmonia da estética grega, mas sim transgressões dessa harmonia, utilizando o alongamento do rosto, a fusão de sobrancelha e nariz, o aumento de olhos e boca etc. As múltiplas possibilidades dos traços humanos representados nas máscaras africanas refletiam então a forma humana, passível de inúmeras perspectivas. 
Enquanto na sociedade ocidental a arte africana era utilizada como inspiração e um novo meio de expressão dos artistas, na sociedade africana, as máscaras e esculturas eram utilizadas em ocasiões cerimoniais. A arte africana em seu contexto original era mais atrelada à religião do que à arte em si, também servindo como meio de expressão da identidade de um povo específico. A arte africana é uma maneira de satisfazer as necessidades de toda uma comunidade, ela é utilitária. A importância da arte para o povo africano está em sua coletividade.
Máscaras Congo- Angola
Um exemplo de como a arte africana pode possuir diferentes julgamentos e ou significados dependendo do local em que está situada, encontra-se em como o artista ocidental e o africano veem a mesma escultura. No caso, uma escultura de boca aberta com seus dentes pontiagudos a mostra, para os ocidentais representa a ameaça, uma “fera”, enquanto para os africanos, mais especificamente para os chukue, representa um sinal de beleza.
Mesmo com a assimilação da arte africana pelos movimentos artísticos modernos, a visão que cada sociedade possui dessas artes (ou como a sociedade as interpreta), faz com que cada uma se torne única em seu contexto. Fica claro que a intenção dos artistas modernos não era, de forma alguma, imitar os africanos, mas sim se apropriar de suas características mais intrigantes, como a liberdade criativa e novos modos de expressão, e fazer com que uma nova proposta de estilo de arte fosse criada.
Picasso -1907
A arte africana trouxe inovações essenciais aos artistas do século XX, como novos critérios sobre o belo e o feio e novas possibilidades de se retratar o corpo humano. A nova arte rompeu com os preceitos tradicionais e se tornou uma arte representacional, mais emotiva, expressiva e crua, na qual não há necessidade de mimese com a realidade. Nos anos 1960, a alteridade africana será vista sobre uma nova ótica e uma sensibilidade ainda mais abrangente. A valorização das produções artísticas de povos antes considerados primitivos trouxe, então, não só novas tendências estéticas, mas também um novo olhar sobre a arte, um olhar mais coletivo, compartilhado e mais profundo.

Bibliografia:
Ajzenberg, E. Munanga, K. Arte moderna e o impulso criador da arte africana.
  http://www.usp.br/revistausp/82/13-elza.pdf
BARROS, José D’Assunção. As influências da arte africana na arte moderna.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Alunos do 3º Período- História da Arte- Letras/CEFET MG visitam a exposição Coleção Inhotim- Do objeto para o mundo- Palácio das Artes/ BH - Fevereiro/2015




Hélio Oiticica
As  obras apresentadas datam dos anos de 1950 até os dias de hoje e propõem um recorte do acervo que examina a formação do campo da arte contemporânea . A exposição toma como ponto de partida um momento histórico em que a arte deixa de se resumir a objetos para existir de maneira mais aberta para o mundo. Nesse contexto, elementos do cotidiano, do espaço real, da política e do corpo são incorporados e o espectador se transforma em participante.(https://www.inhotim.org.br/blog/inhotim-exposicao-gratuita-bh/) 

ARTES VISUAIS: BASQUIAT

Jean Michel Basquiat


http://www.youtube.com/watch?v=vmgoSYZr77k

Basquiat foi um dos primeiros  a usar o grafite como forma de expressão. A partir dele o grafite abandonou as ruas ganhou estatus de arte. Seu trabalho era um mix de influências. Ele se utilizava do pop, arte das ruas, histórias em quadrinhos e suas raízes africanas faziam parte do caldeirão cultural. 
Grande amigo de Andy Warhol, eles chegaram a pintar juntos alguns quadros. Apesar de ter morrido cedo, aos 27 anos de overdose, Basquiat é considerado um dos mais influentes artistas da década de 80.(http://blogartemix.blogspot.com/2010/10/jean-michel-basquiat.html)

Poesia: EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA

CANDOMBE

Põe o ombro na lua,
Mas levanta forte
que Zambi arrepia o sol.

Os velhos desfiam os dedos
e o tempo se assusta: “Auê,
quem vive tanto é de mistério”.

“Não, que o quê?— respondem.
Põe o ombro aqui, candonga
mas dobra forte
que Zambi engole o sol.

Uê, morde por dentro
cobra dormindo faz a cova.

Uê, quem sabe desses meninos
é Zambi que engole o sol
é Zambi que mata o sol.


MISSA CONGA

Para que deuses se reza
quando o corpo aprendeu
      toda linguagem do mundo?

Onde se deitam os olhos
quando o altar dos antigos
         ainda se esconde?

Para que deuses se reza
quando as palavras se velam
         para invocar os nomes?

Por que não entregar a vida
ao deus com olhos de plumas
        que vive no fundo dos tempos?

EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA

Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil, em 1963. Licenciado em Letras e especializado em literatura portuguesa. Professor de literatura na Universidade Federal de Juiz de Fora, é mestre em literatura e em ciência da religião e doutor em comunicação e cultura. Estreou em 1985 e  publicou quase duas dezenas de livros. Sua obra poética foi reunida em quatro volumes em 2003, incluindo: Zé Osório Blues (2002); Lugares Ares (2003); Casa da Palavra (2003); e As Coisas Arcas (2003).  Traduzido a vários idiomas. 
Veja mais poemas do autor


Vídeo- ORO MIMA

ORO MIMÁ - Videoclipe realizado na comunidade quilombola  Santiago do Iguape - BA. 
https://www.youtube.com/watch?v=TsI2-ioOQA4


Luís Gama

Luiz Gonzaga Pinto da Gama nasceu em Salvador, Bahia, em 21 de julho de 1830, filho de uma negra livre, Luíza Mahin, e de um fidalgo branco de origem portuguesa (cujo nome jamais citou). Gama veio ao mundo na condição de  negro livre. Sua mãe, segundo ele mesmo conta, participou da Revolta dos Malês, em 1835, a maior rebelião de escravos do Brasil, e da Sabinada, em 1837, que proclamou a República Bahiense, era uma verdadeira revolucionária. Devido à participação nessas revoltas, Luiza teve que fugir para o Rio de Janeiro, deixando Gama aos cuidados do pai e sem qualquer informação posterior sobre ela. Por um ano, Luiz Gama viveu sob os cuidados do pai, que o vendeu quando contava dez anos de idade, na condição de escravo, segundo consta, para pagar dívidas de jogo. Foi assim que, da noite para o dia, um ser humano livre e dono de si, tornou-se uma “peça”, um escravo. Daí iniciou a trajetória de superação que faria de Luiz Gama um exemplo para negros e brancos na sua luta obstinada pelo fim da escravidão.

Luiz Gama, poeta, jornalista e advogado, defensor dos oprimidos, pobre por opção. 


DOCUMENTÁRIO EM VÍDEO SOBRE A VIDA E OBRA DE LUIS GAMA - TV Brasil - Programa De Lá Pra Cá: http://www.youtube.com/watch?v=srjrYBeypYQ

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Pierre Verger


Pierre Edouard Léopold Verger (1902-1996) foi um fotógrafo, etnólogo, antropólogo e pesquisador francês que viveu grande parte da sua vida na cidade de Salvador, capital do estado da Bahia, no Brasil. Ele realizou um trabalho fotográfico de grande importância, baseado no cotidiano e nas culturas populares dos cinco continentes. Além disto, produziu uma obra escrita de referência sobre as culturas afro-baiana e diaspóricas, voltando seu olhar de pesquisador para os aspectos religiosos do candomblé e tornando-os seu principal foco de interesse.
O livro ORIXÁS é fruto das constantes viagens de Pierre Verger à África entre os anos de 1948 e 1965 e apresenta textos e ilustrações que comentam e mostram certos aspectos do culto aos orixás, deuses dos iorubás, em seus lugares de origem, na África (Nigéria, ex-Daomé e Togo) e no Novo Mundo (Brasil e Antilhas), para onde foram levados, durante séculos, como escravos.
 (Fonte: http://www.pierreverger.org/fpv/index.php/br/pierre-fatumbi-verger/biografia)





http://www.pierreverger.org/fpv/index.php/br/espaco-foto/portfolios/orixas

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Poema do mestre Abdias do Nascimento

Padê de Exu libertador 

Exu- Abdias do Nascimento
Ó Exu
ao bruxoleio das velas
vejo-te comer a própria mãe
vertendo o sangue negro
que a teu sangue branco
enegrece
ao sangue vermelho
aquece
nas veias humanas
no corrimento menstrual

À encruzilhada dos
teus três sangues
deposito este ebó
preparado para ti
[...]

Exu-Yangui
príncipe do universo e
último a nascer
receba estas aves e
os bichos de patas que
trouxe para satisfazer
tua voracidade ritual
fume destes charutos
vindos da africana Bahia
esta flauta de Pixinguinha
é para que possas chorar
chorinhos aos nossos ancestrais
espero que estas oferendas
agradem teu coração e
alegrem teu paladar
um coração alegre é
um estômago satisfeito e
no contentamento de ambos
está a melhor predisposição
para o cumprimento das
leis da retribuição
asseguradoras da
harmonia cósmica

Invocando estas leis
imploro-te Exu
plantares na minha boca
o teu axé verbal
[...]

Teu punho sou
Exu-Pelintra
quando desdenhando a polícia
defendes os indefesos
vítimas dos crimes do
esquadrão da morte
punhal traiçoeiro da
mão branca
somos assassinados
porque nos julgam órfãos
desrespeitam nossa humanidade
[...]

Exu
tu que és o senhor dos
caminhos da libertação do teu povo
sabes daqueles que empunharam
teus ferros em brasa
contra a injustiça e a opressão
Zumbi Luiza Mahin Luiz Gama
Cosme Isidoro João Cândido
sabes que em cada coração de negro
há um quilombo pulsando
em cada barraco
outro palmares crepita
os fogos de Xangô
iluminando nossa luta
atual e passada

Ofereço-te Exu
o ebó das minhas palavras
neste padê que te consagra
não eu
porém os meus e teus
irmãos e irmãs em
Olorum
nosso Pai
que está
no Orum

Laroiê!
(O poema é parte do discurso de Abdias Nascimento ao receber o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia - disponível na íntegra em http://www.abdias.com.br/biografia/ufba.htm)