Quando Drogba acabou com a guerra civil na Costa do Marfim
Do UOL Esporte
Em São Paulo
A importância do astro Didier Drogba para a Costa do
Marfim não se restringe aos limites do gramado. O atacante do Chelsea,
da Inglaterra, já conseguiu usar o futebol como arma para acabar com uma
guerra civil que se arrastava por cinco anos no seu país.
O episódio ocorreu em março de 2007, no confronto contra Madagascar,
em partida válida pela qualificação da Taça das Nações Africanas. Mas
não era apenas a vitória que estava em jogo. Na época, o craque exigiu
que a partida fosse disputada em Bouaké, que era conhecida como a
capital da rebelião.
A cidade era sede das tropas rebeldes do norte, de origem islâmica e
com menor poder aquisitivo. Os guerrilheiros enfrentavam o exército do
governo, ao sul do país, ligado ao cristianismo e às classes mais
favorecidas. A nação ficou dividida numa guerra sangrenta, que só
acabaria por causa da paixão do país pelo futebol.
O jogo no Bouaké Stadium uniu rebeldes e simpatizantes ao governo
durante um período de cessar fogo. Um tanque rebelde conduziu a seleção
liderada por Drogba ao estádio. E, antes do começo da partida, 25 mil
fãs cantaram o hino do país.
Na tribuna do estádio, o presidente Laurent Koudou Gbagbo ficou ao
lado do guerrilheiro Guillaume Kigbafori Soro, que hoje é
primeiro-ministro do país. A Costa do Marfim goleou Madagascar por 5 a
0. No dia seguinte, os jornais marfinenses noticiavam: “Cinco gols para
acabar com cinco anos de guerra”. Na ocasião, Drogba disse: “Foi como se
a Costa do Marfim tivesse renascido”.
Era o desabafo de um jogador que se tornou herói de uma nação ao
conseguir fazer com que a paixão pelo futebol se tornasse algo maior e
mais nobre. A emoção tomou conta até mesmo dos soldados rebeldes que
conduziram Drogba para fora do estádio. Muitos deles apertaram a mão do
ídolo.
Outros puxaram câmeras fotográficas para registrar o momento em que
uma partida de futebol ganhou outro significado. “Drogba e a seleção
conseguiram fazer em 90 minutos o que os políticos não conseguiram fazer
durante anos: unir a Costa do Marfim”, disse Guy Denis Koné, rebelde
das forças de oposição, que assistiu ao jogo no estádio.
As tropas do governo ficaram nas arquibancadas, para simbolizar a
união do país. Era a primeira vez que os soldados do governo estiveram
na capital rebelde desde o começo da guerra civil. E a primeira vez que
os dois inimigos estiveram lado a lado, sem animosidades.
“Quando eu cheguei aqui, senti apreensão e esperança ao mesmo tempo”,
disse o oficial Christophe Diecket, em entrevista à revista Vanity
Fair. “Ocorreram muitas mortes. Nós sabíamos que era o momento de deixar
essa guerra de lado. Isso não poderia ter sido feito por outra pessoa.
Apenas Drogba. Foi ele que nos curou dessa guerra”
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