A lei 10.639 não chegou à saúde, denuncia pesquisador
Redação, Correio Nagô - A lei 10.639/03, que estabelece o ensino da
história da África e da cultura afro-brasileira na educação completa dez
anos de sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com
poucos avanços no despertar do interesse da sociedade para as relações
étnico-raciais. Uma das áreas não impactadas pela lei é o campo da
saúde, como adverte do professor Luis Eduardo Batista, pesquisador do
Instituto de Saúde da Secretaria Estadual de Saúde da São Paulo e
coordenador do eixo Saúde da Associação Brasileira de Pesquisadores
Negros / ABPN.
“A lei estabelece a discussão dos temas étnico-raciais em toda
educação brasileira. É preciso incluir esse debate na formação
permanente dos profissionais de saúde, em cursos como medicina,
enfermagem, nutrição, enfim, todos. A lei 10.639 não chegou à saúde”,
denuncia Batista. Para o pesquisador, a ausência do tema na formação
repercute negativamente na atuação dos profissionais e dos gestores, não
capacitados para entender a importância deste aspecto na elaboração das
políticas públicas. “Ainda há muita dificuldade da gestão do SUS
reconhecer o racismo como agravante da vulnerabilidade da saúde, pois os
gestores ainda pensam em políticas universais. Não pensam no
aprimoramento de temas específicos como a saúde do negro, do idoso, da
criança, da pessoa com deficiência etc”.
A Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo, Maria Inês
Barbosa, que junto com Batista, integra o grupo de precursores nas
pesquisas sobre saúde da população negra no Brasil, reforça a
importância da efetivação da lei 10.639/03 na formação em saúde. “A Lei
não exclui nenhuma disciplina. Após dez anos, era para termos um
contingente de profissionais melhores formados, com outro olhar para a
saúde. Mas a verdade é que não temos conseguido garantir a efetivação
nem nas áreas em que todos entendem que diz mais respeito, como as
ciências sociais. É uma tarefa árdua e prioritária”, avalia.
Texto: André Santana
Foto: Divulgação
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