VEJA O TEXTO NA ÍNTEGRA
No extremo oeste da África setentrional, entre os atuais países de Mali e da Mauritânia, ao longo do rio Níger até mais a oeste, na escarpa do Tagant, com limite ao sul nos rios Senegal e Bakoy, desenvolveram-se as primeiras civilizações negras conhecidas: os Maqzara, o reino de Tekrur, e os famosos Impérios de Gana (Wagadu), ou o “Império do Ouro”, como ficou sendo chamado, e o de Songai (ou de Gao).
Graças a rotas de comércio transaarianas estabelecidas pelos berberes islamizados é que se tem notícia escrita das civilizações negras ao sul do Saara.
Na trilha da famosa “rota saariana do ouro” havia o reino do Tekrur.
Tipo de construção na área rural da atual Mauritânia |
A escravidão negra
O comércio de homens foi um fato geral e conhecido de todas as humanidades primitivas.
Muitos séculos antes da chegada dos brancos europeus à África, as tribos, reinos e impérios negros africanos praticavam largamente o escravismo, da mesma forma os berberes e demais etnias muçulmanas.
Antigo forte muçulmano de escravos, na Tanzânia |
Mercado de escravos no Yêmen - manuscrito árabe (1236-1237) |
O reino de Gana é chamado assim por causa do título de seus soberanos. Era também chamado de Ugadu (país dos rebanhos). Nessa época, o clima era bastante úmido, o que favorecia a criação de gado e a agricultura.
Em 970 o viajante muçulmano Ibn Hawkal viajou de Bagdá até a margem do rio Níger, e não hesitou em dizer do imperador de Gana: “É o mais rico do mundo por causa do ouro”
Mali - do blog Viajando pelo Mundo (muito legal!!) |
Sabemos da existência desse rico império negro e escravocrata graças aos viajantes islâmicos e à presença muçulmana na região, com seu grupo letrado. O historiador al-Umari (1301-1349), nos informa que o povo era “alto, de compleição preta retinta e cabelos encrespados”.
Mali |
Um dos informantes de al-Umari lhe disse que “o ouro é extraído cavando-se buracos na profundidade que chegam à altura de um homem e são encontrados embutidos nas laterais dos buracos, ou às vezes no fundo deles” (DAVIDSON, 1992: 148).
Mesquita - Mali |
Os séculos IX e X viram o apogeu do império negro de Gana. No entanto, no século XI, com o avanço árabe almorávida , o Império entrou em decadência.
O Império de Mali (c. 1235-1500)
A queda do Império de Gana abriu um vácuo de poder. A grande questão era: quem tomaria agora o controle das rotas comerciais próximas das fontes auríferas?
. Mapa do Império de Mali (século XIV) |
O Império de Mali com seus reinos “vassalos” (século XIV) |
Musicos- Mali |
Griot |
Com Sundjata (ou Mari Djata, o “Leão do Mali”) e seus sucessores até Mansa Mussa (ou Kandu Mussa, 1312-1332), o reino de Mali passou a ser conhecido no mundo ocidental.
Em 1324, Mansa Mussa realizou uma peregrinação a Meca, passando pelo Egito e com a intenção de maravilhar os soberanos árabes
Sua peregrinação fez o Império de Mali ser conhecido por todo o mundo, e os mapas europeus passaram a citá-lo.
Mansa Mussa segurando uma pepita de ouro. |
. Mapa do Norte da África (manuscrito catalão de 1375) |
Este mapa catalão do século XIV do Norte da África tem quatro reis, três africanos: o rei Mansa Musa de Mali (sentado, com uma gema de ouro na mão direita), o rei de Organa, o rei da Núbia e o rei da Babilônia.
Os dois números em vermelho marcam dois textos. São eles: “Toda esta parte tem gentes que ocultam a boca; só se vêem seus olhos. Vivem em tendas e têm caravanas de camelos. Também possuem animais de cujas peles fazem excelentes escudos”. 2. “Este senhor negro é aquele muito melhor senhor dos negros de Guiné. Este rei é o mais rico e o mais nobre senhor de toda esta parte, com abundância de ouro na sua terra” (tradução literal).
De regresso para Mali, o imperador trouxe consigo um poeta-arquiteto, Abu Issak, mais conhecido como Es Saheli. Com ele, construiu a grande mesquita de Djinger-ber, em Tumbuctu.
A religião em Mali
Como todos os reinos negros islamizados desse período, a religião em Mali era um misto de várias influências, especialmente as pagãs.
No século XVI, tempo de Mahmud Kati, historiador e conselheiro do Askia Mohammed, o império tinha cerca de quatrocentas cidades e vilas. O sistema de governo era descentralizado. Era dividido em províncias, administradas por um dyamani tigui (ou farba). As províncias eram subdivididas em conselhos (kafo) e aldeias (dugu).
A autoridade da aldeia poderia ser bicéfala: um chefe político, outro religioso. O farba recolhia impostos e requisitava tropas, caso necessário. Havia ainda reinos subordinados que reconheciam a hegemonia do imperador, enviando regularmente presentes.
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