Um leão africano adorna o emblema do Clube dos Cutubas, Leopoldina-MG. Trata-se de referência ilustre para um reinado de quase 90 anos de pura música de pretos.
Desde 1925, em quase um século de resistência ao racismo, o Cutubas, altivo em sua sede,
ainda anima as noites de quem busca
samba, pagode, forró e outros ritmos, no sobradinho pintado de um cinza triste, em nada
combinando com a animação colorida dos
seus frequentadores.
O Cutubas é o lugar onde os negros sempre
puderam entrar e se divertir - no outro clube da cidade eles eram barrados. Mas a herança escravista e latifundiária tem
que engolir até hoje o quilombo urbano, quarteirões adiante, território insurgente erguido e sustentado com
o suor dessa gente que não tem medo de nada, leões orgulhosos de sua raça, de
sua força e, principalmente, de sua
alegria que não morre nunca, como um
farol a nos guiar nesses longos séculos de intolerância.
No Cutubas era onde se gastava as horas preciosas roubadas
do trabalho duro nas fazendas de café, na
estrada de ferro, nas fábricas de tecidos, nas cozinhas e faxinas das casas grandes.
Lugar de namoros, beijos, promessas e memória de outros carnavais.
A história do Cutubas está sendo
contada por seus velhos conhecidos, dirigentes, frequentadores, músicos no
projeto Memória e Patrimônio afro- descendente de Leopoldina-MG que estou coordenando e aprendendo muito. (Margareth C.Franklim)