segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Estudantes negros são menos de 10% nas universidades federais

Apesar de políticas afirmativas direcionadas para a população negra, esse público ainda é minoria nas universidades federais. Estudo  lançado pela Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior) sobre o perfil dos estudantes de graduação mostra que 8,72% deles são negros. Os brancos são 53,9%, os pardos 32% e os indígenas menos de 1%.
 

Ainda que a participação dos negros nas federais seja pequena, houve um crescimento em relação à pesquisa anterior produzida pela Andifes em 2003, quando menos de 6% dos alunos eram negros. Isso significa um aumento de 47,7% na participação dessa população em universidades federais.

Para o presidente da associação, João Luiz Martins, a evolução é "tímida". Ele defende a necessidade de políticas afirmativas mais agressivas para garantir a inclusão. "A universidade tem uma dívida enorme em relação a isso [inclusão de negros]. Há necessidade de ampliar essas ações porque o atendimento ainda é muito baixo", avalia.

A entidade é contra uma legislação ou regra nacional que determine uma política comum para todas as instituições, como o projeto de lei que tramita no Senado e determina reserva de 50% das vagas para egressos de escolas públicas. 

"Cada um de nós tem uma política afirmativa mais adequada à nossa realidade. No Norte, por exemplo, a universidade precisa de uma política que tenha atenção aos indígenas. No Sul, o perfil já é outro e na Bahia outro", explica Martins. 

O estudo mostra que os alunos egressos de escolas públicas são 44,8% dos estudantes das universidades federais. Mais de 40% cursaram todo o ensino médio em escola privada. 

O reitor da Universidade Federal do Pará (Ufpa), Carlos Maneschy, explica que na instituição metade das vagas do vestibular é reservada para egressos da rede pública. Desse total, 40% são para estudantes negros. Ele diz acreditar que nos próximos anos a universidade terá 20% de alunos da raça negra. "Antes, nem 5% eram de escola pública", diz. 

__________. Estudantes negros são menos de 10% nas universidades federais . UOL. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/saber/953699-estudantes-negros-sao-menos-de-10-nas-universidades-federais.shtml. Acesso em: 12/09/2011.

domingo, 11 de setembro de 2011

Mau preparo de professor atrapalha ensino de literatura afro


Educadores afirmam que há boas obras e materiais didáticos disponíveis, mas docentes ainda não sabem como trabalhá-los em sala

Uma menina negra, com vasta cabeleira, tenta entender por que seu cabelo não para quieto. Ela encontra um livro sobre países africanos e passa a compreender a relação entre seus cachos e a África. A história é contada no livro “Cabelo de Lelê”, de Valéria Belém, e segundo a pedagoga e pesquisadora Lucilene Costa e Silva, um dos bons exemplos de literatura afro-brasileira infantil. “Nas séries iniciais, as crianças estão construindo a identidade. Ter acesso a obras que mostrem personagens como elas é fundamental”, avalia.

Lucilene dá aula há 20 anos na rede pública de ensino do Distrito Federal e conta que sentia falta da imagem negra nos livros de literatura infantil. “Cheguei a contar a história ‘Chapeuzinho Vermelho’ usando uma boneca negra com capuz vermelho. Hoje sei que isso não é mais necessário. A África tem histórias, personagens e enredos lindíssimos.”

Atendendo à lei 10.639, que determina o ensino de cultura afro-brasileira nas escolas, o Ministério da Educação (MEC) e as secretarias municipais e estaduais de ensino têm cada vez mais distribuído obras e vídeos protagonizados por personagens negras ou que abordam a diversidade étnico-racial. “É visível o aumento na quantidade de material didático e para-didático disponível sobre o tema após a implantação da lei”, afirma Luciano Braga, professor de Artes há 15 anos das redes municipal e estadual de São Paulo e co-autor, junto com Elizabeth Melo, do livro “História da África e afro-brasileira – em busca das nossas origens”, lançado em 13 de maio de 2010.

Foto: Thinkstock
Educadores afirmam que a literatura infantil sobre diversidade étnica ajuda a combater a discriminação racial


O professor conta que obras com contos e lendas africanas são uma novidade recente nas duas escolas onde dá aulas. “Estamos recebendo livros nos quais o herói é uma criança negra ou onde há personagens brancos e negros. A questão não é valorizar uma cultura ou outra e sim fazer com que a criança se sinta pertencente ao meio. É assim que combatemos a discriminação”, ressalta. Da mesma forma que contos de fada e histórias europeias são narrados em sala de aula, histórias e lendas africanas e indígenas devem ser apresentadas, defende o professor.

No livro infantil “Betina”, de Nilma Lino Gomes, uma avó trança os cabelos da neta e conversa sobre seus ancestrais. “Na África as tranças têm diferentes significados e o cabelo é muito importante para a mulher. Está ligado à identidade”, explica Lucilene. Quando a professora terminar de contar a história de Betina, uma menina de rosto redondo, olhos negros e cabelo todo trançado, os alunos ficam encantados. “Todas as crianças, negras e brancas, querem ser a Betina”, conta.

Formação de professores

Lucilene desenvolve pesquisa de mestrado na Universidade de Brasília (UnB) sobre a presença da literatura afro-brasileira no Programa Nacional Biblioteca da Escola do MEC, que distribui obras de literatura, pesquisa e referência para as escolas públicas brasileiras. Apesar de o ministério não ter um levantamento específico das obras que abordam essa temática, a pesquisadora afirma que os livros estão presentes no catálogo oferecido. “É um avanço, mas em muitas escolas do DF as obras chegam e ficam encaixotadas, porque os professores não sabem como trabalhá-las”, afirma.

Em São Paulo, Braga promove palestras e oficinas sobre diversidade étnica e encontra o mesmo problema: materiais didáticos deixados de lado porque os professores não sabem como usá-los.

A coordenadora da área de diversidade do MEC – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad) –, Leonor Franco, reconhece que o principal entrave para a aplicação da lei é a formação dos professores. “O nó da questão é a qualificação, a formação de professores e gestores. Não basta capacitar só os professores, tem que sensibilizar todos os funcionários da escola, os diretores, o secretário de educação. Não adianta colocar livro na escola se o professor não souber o que fazer com aquilo”, afirma.

Segundo Leonor, grande parte do problema está no ensino superior. A temática e o conteúdo da diversidade étnico-racial não estão nos cursos de licenciatura: “Nossa formação continuada é quase uma formação inicial”, critica. Outro desafio é a ampliação de parcerias para oferecer cursos de capacitação. Atualmente os editais do MEC são voltados apenas para instituições de ensino superior federais e estaduais. “Temos secretarias de ensino que têm condições de promover capacitação. O resultado é que a gente tem tido dinheiro (na Secad), mas poucos projetos bons para formação de professores.”

Salloma Salomão, músico e doutor em História Social pela PUC-SP, atua na formação de docentes pela rede de educadores Aruanda Mundi. Nos últimos cinco anos, cerca de 3 mil professores de mais de cinco estados diferentes foram capacitados. “Faltam investimentos das secretarias em projetos formativos sistemáticos e de longa duração”, aponta. Segundo Salomão, os cursos oferecidos pela Aruanda têm duração mínima de 120 horas, mas o ideal seria 360 horas e dois anos de duração.

 O historiador destaca a importância do uso das tecnologias na capacitação dos docentes. Por meio de plataformas da internet, Salomão promove a interação de professores brasileiros com africanos, principalmente de países de língua portuguesa. “Falar de África não significa tirar o sapato e pisar na terra. Há inúmeras possibilidades com o uso da tecnologia. Precisava de um mapa étnico-linguístico da África e um pesquisador da universidade de Coimbra nos forneceu o material. É um processo de aprendizagem com o que há de mais contemporâneo.”
 

Veja a lista de obras de literatura afrobrasileira para crianças indicadas pela professora e pesquisadora Lucilene Costa e Silva:

A serpente de Olumo – Ieda de Oliveira – Ed Cortez Editora


ABC do continente africano –Rogério A. Barbosa – Ed. SM


Anansi, o velho sábio – Um conto Axanti recontado por Kaleki – Ed Companhia das Letrinhas


Ao sul da África – Laurence Questin – Catherine Reisser – Companhia das Letrinhas


Betina – Nilma Lino Gomes – Mazza Edições


Brinque- Book conta fabulas – Bob Hortman e Susie Poule


O Cabelo de Lelê – Valéria Belém – Ibep Nacional


Chuva de Manga – James Rumford – Ed brinque Book


O dia em que Ananse espalhou a sabedoria pelo mundo – Eraldo Miranda – Editora Elementar


Doce princesa Negra- Solange Cianni- Ed-L.G.E


Era uma vez na África – Jean Angelles – Ed. LGE


Euzebia Zanza – Camila Fillinger – Ed Girafinha


O funil Encantado - Jonas Ribeiro - Ed Dimensão


Gente que mora dentro da gente-Jonas Ribeiro-Ed Dimensão


Histórias da Preta – Heloisa Pires Lima –Ed. Companhia das Letrinhas


Ifá, o advinho; Xango, o Trovão; Oxumarê, o Arco-iris – Raginaldo Prandi – Ed. Companhia das Letrinhas


Krokô e Galinhola – Um conto africano por Mate – Ed brinque Book


O livro da paz-Todd Parr- Ed Panda-Book


Lendas Africanas. E a força dos tambores cruzou o mar - Denise Carreira - Ed. salesiana


O mapa – Marilda Castanha – Ed. Dimensão


Meia dura de sangue seco – Lourenço Cazarré – Ed. LGE


Na minha escola todo mundo é igual - Rossana Ramos e Priscila Sanson - Ed Cortez


Nina África – Lenice Gomes, Arlene Holanda e Clayson Gomes – Ed. elementar


A noite e o Maracatu – Fabiano dos Santos – Ed Edições Demócrito Rocha


Orelhas de Mariposa - Luiza Aguilar e Andre Neves-Ed Callis


O presente de Ossanha – Joel Rufino dos Santos- Ed. Global


Por que somos de cores diferentes? – Carmem Gil- Ed girafinha


Que mundo maravilhoso – Julius Lester e Joe Cepeda – Ed Brinque Book
Sergio Capparelli – Ed. Global


Tem gente com fome – Solano Trindade Ed. Nova Alaxandria


Os tesouros de Monifa – Sonia Rosa – Ed Brinque-Book


Todas as crianças da terra – Sidónio Muralha –Ed Global


Uma menina e as diferenças – Maria de Lourdes Stamato de Camilis-Ed Biruta


Viver diferente – Lilian Gorgozinho – Ed L.G. E Editora


COSTA, Marina Morena. Mau preparo de professor atrapalha ensino de literatura afro. iG. Disponível em: http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/mau+preparo+de+professor+atrapalha+ensino+de+literatura+afro/n1237831259874.html. Acesso em: 11/09/2011.